[RESENHA] Carta de Amor aos Mortos - Ava Dellaira
15:40Editora: Seguinte
Autor: Ava Dellaira
Título: Carta de Amor aos Mortos
Paginas: 344
Título Original: Love Letters To The Dead
Estrelas: 4/5
GOODREADS | SKOOB | SARAIVA | SUBMARINO
por Lia Rodrigues
Tudo começa com uma tarefa para a escola: escrever uma carta para alguém que já morreu. Logo o caderno de Laurel está repleto de mensagens para Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Heath Ledger, Judy Garland, Elizabeth Bishop… apesar de ela jamais entregá-las à professora. Nessas cartas, ela analisa a história de cada uma dessas personalidades e tenta desvendar os mistérios que envolvem suas mortes. Ao mesmo tempo, conta sobre sua própria vida, como as amizades no novo colégio e seu primeiro amor: um garoto misterioso chamado Sky.
Mas Laurel não pode escapar de seu passado. Só quando ela escrever a verdade sobre o que se passou com ela e com a irmã é que poderá aceitar o que aconteceu e perdoar May e a si mesma. E só quando enxergar a irmã como realmente era — encantadora e incrível, mas imperfeita como qualquer um — é que poderá seguir em frente e descobrir seu próprio caminho.
Carta de Amor
Aos Mortos é escrito em um formato totalmente diferente: em forma de diversas
cartas para ídolos mortos. E conta a história de Laurel, uma menina de 15 anos que perdeu a irmã meses antes. A história se inicia quando ela começa o ensino médio e
a professora de inglês pede como primeiro trabalho que seus alunos escrevam uma
carta a uma pessoa que já morreu.
“Havia
uma barreira entre mim e o mundo. Parecia uma grande parede de vidro, espessa
demais para ser atravessada.”
Laurel é, a princípio, uma menina normal,
mas com o passar das primeiras páginas demonstra estar perdida. Ela não sabe
quem ela mesma é depois da morte da irmã, não tem amigos – já que se afastou
dos antigos e mudou para uma escola onde ninguém a conhecia, buscando o anonimato pelo que
ocorreu com May.
“É
possível ser nobre, corajoso e lindo, e ainda assim desabar.”
O desespero para ser alguém e se descobrir, e
o medo pelas coisas que aconteceram no passado descrevem Laurel. Ela acaba por comparar a vida da irmã com a sua, e
busca ser como a irmã: destemida, feliz e confiante. Mas o que Laurel não sabe ou não quer saber é que
May não era perfeita.
É um livro
sobre relacionamentos: com os novos amigos, com a irmã, com o garoto de quem
ela gosta, com a família e com o passado. É sobre lidar com os sentimentos de
culpa e ódio,
sobre se afogar na dor e lidar com a perda.
“Quero
ser purificada, quero queimar todas as lembranças ruins.”
Seus novos
amigos Natalie, Hanna, Tristan e Kristen foram tudo o que ela precisava no momento e
fizeram o que ela mais esperava ̶ eles
nunca a pressionaram por informações ̶ E havia também Sky, o menino que tinha sido expulso do antigo colégio, e por quem Laurel acabou se sentindo atraída. Ele
sempre pareceu ser aquele tipo de pessoa que sabe mais do que fala. Mas dou
pontos a ele pela paciência de sempre tentar escapar do que pudesse
comprometê-lo porque, mesmo sem pressioná-la, ele sabia que algo tinha
acontecido, e tudo que ele queria era ajudar.
“Mas
não somos transparentes. Se quisermos que alguém nos conheça, precisamos nos revelar
à essa pessoa.”
Já o
relacionamento com a família: o pai,
a mãe e a tia Amy, foi um caso à parte.
Cada um desses foi se desenvolvendo de acordo com a forma como Laurel
lidava com os fantasmas do passado. Ela sentia falta de como as coisas eram e
não sabia como trazer aquilo de volta. Além disso, havia o fato de sua mãe
tê-la abandonado logo após a morte da May,
o que a deixou mais frágil do que ela realmente deixava transparecer.
Sobre as
cartas, cada uma delas foi brilhante em seu jeito, mas no geral seguiam o mesmo
caminho ̶ a história do destinatário era lembrada
durante um acontecimento do dia, seja por uma música, um filme ou apenas uma
lembrança ̶ e então ela relacionava à história real que
se encontrava na internet – de cada um com a sua vida. Ela conta aos mortos
tudo o que queria e deveria contar aos vivos.
Para Laurel, essas cartas eram o seu modo de
lidar com o passado, o presente e consequentemente com o futuro. Ela é como um
quebra-cabeça:
sua história é um quebra-cabeça, assim como a morte de May que é um mistério. Ela não parece
entender muito bem o que aconteceu e eu, particularmente, passei o livro
inteiro pensando em teorias que eram desmentidas conforme a história seguia. Quando eu já não sabia mais o que
poderia ter acontecido, ela escrevia a
respeito e me surpreendia
até o último fio de cabelo.
Tudo o que Laurel quer é ser
livre ̶ ser
livre do passado, da culpa, do rancor
̶ E ela vê uma fuga nas
conversas que tem como os mortos. É a sua maneira de luta contra o próprio medo
de não falar sobre o que aconteceu naquela noite. É a sua maneira de desabafar
em silêncio até ter coragem de o fazer em voz alta.
“‘Nirvana’
significa liberdade. Liberdade do sofrimento. Acho que algumas pessoas diriam
que a morte é exatamente isso. Então, parabéns por estar livre, acho. O resto
de nós ainda está aqui, agarrado
ao casco.”
Sabem aquele
quote de One Tree Hill, em que a Peyton faz uma arte que diz “People Always Leave” (As pessoas
sempre vão embora)? É como a Laurel
se sente, e por isso ela não
consegue contar as coisas; ela
tem medo de justamente disso ̶ ser
deixada sozinha. Primeiro a irmã, depois a mãe. Isso a traumatizou, além do que
aconteceu, claro.
O livro
também aborda assuntos como
sexualidade, depressão, abuso de menores, violência mostrando como cada uma
dessas coisas afeta as pessoas de maneiras diferentes.
“[...]
mas essa pessoa sempre muda, e você também está em transformação. De repente
descobri que estar vivo é isso. Nossas próprias placas invisíveis se movem em
nosso corpo, e se alinham à pessoa que vamos nos tornar.”
Ava Dellaira
fez um trabalho incrível montando esse livro que aborda uma história brilhante de uma maneira inteligente. Não ganhou 5 estrelas
por ser meio parado, ou porque li em português e não vi
tanta emoção em certos pontos
(perdi o habito de ler em português, então estranho às vezes
quando resolvo ler).
0 comentários